Lembranças de um congresso, no coração da África

Um pequeno brinquedo fazia nossa alegria, de menino. Era um cilindro com um orifício em uma das extremidades, que se abria para uma janela transportando-nos para um mundo de maravilhas, onde as formas brincavam com as cores: o caleidoscópio. A cada movimento no tubo, revestido de um belo papel ou veludo, fazia aparecer novas figuras e coloridos. O nome tem como origem três palavras gregas belo=καλ?ς (kalos), imagem=ε?δος (eidos) olhar ou observar=σκοπ?ω (scopeο). Observar a beleza através da imagem revista de colorido e luz. Essa sensação tem-se quando deixa-se o sul da África em direção ao centro desse Continente.

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Caleidoscópio

Realiza-se um sonho de criança: morar em um mundo de cores e formas, que tem vida e movimentos próprios. Infantil pode parecer, a princípio, esse desejo. Mas quando nos deparamos com o ambiente e costumes da cidade de Yaoundé, capital, de Camarões onde realizou-se o primeiro Congresso Pan-africano promovido pelo Pontifício Conselho para os Leigos, vive-se como em um grande caleidoscópio.

A vegetação tropical exuberante, uma vida fervilhante de centenas e centenas de pessoas que caminham pelas ruas, com suas roupas já em tintas orientais, músicas, tristezas, problemas e muita fé. Traz-nos a impressão de um universo, que a todo momento desenha figuras multicoloridas.
O Congresso foi realizado na Universidade Católica de Yaoundé com representantes de centenas de países africanos. Entre os objetivos desse encontro os leigos e também movimentos novos e ordens religiosas, ali, presentes estava para estudar importantes documentos de papas, sobre os desafios do continente africano. Entre eles: A África hoje; cenários sociais, geopolíticos, econômicos e culturais pela Professora Marie-Thérèse Mengue. Jesus Cristo em terras africanas, pelo Mons. Barthélemy Adoukonou. A vocação e a missão dos leigos sobre a luz da Exortação Apostólica Sinodal Christifideles Laici, por Mons. Joseph Clemens. A formação dos fiéis leigos em África, pelo Card. Roberto Sarah. Os fiéis leigos, sal da terra de África e luz do mundo, pelo Card. Peter K.A. Turkson…

Sob o lema: Ser testemunha de Jesus Cristo na África hoje, abriu-se o evento com a Santa Missa celebrada pelo Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, o Cardeal Stanislaw Rylko. Em sua homília o purpurado afirmou a excelência da Igreja missionária, que é o amor de Cristo, o anúncio do Evangelho. O leigo é chamado a acompanhar cada batizado durante sua caminhada, nesse terceiro milênio. A Igreja tem necessidade desse apostolado, em vista dos desafios do mundo atual: novos métodos, nova forma de comunicação, de expressão.

A mensagem lida pelo Núncio Apostólico, de Camarões, Mons. Piero Pioppo enviada, especialmente para o evento, pelo Papa Bento XVI aos congressistas, lançou uma luz sobre os estudos realizados durante esses dias, no Campus de Nkolbisson.

Nela o Santo Padre apresenta como modelo de esperança a santa sudanesa Joséphine. Diz o Pontífice que “isto é o porquê, que na Encíclica Spe salvi, eu quis apresentar a santa sudanesa Joséphine Bakita como testemunha da esperança (cf.n.3), para mostrar como o rencontro com o Deus de Jesus Cristo é capaz de transformar profundamente todo o ser humano, mesmo em condições pobres – Bakita era uma escrava – para Ele dar a suprema felicidade de filha de Deus. Precisamente, “o conhecimento dessa esperança, ela estava “redimida”, já não se sentia mais uma escrava, mas filha de Deus”.(ibd) E a descoberta dessa esperança cristã suscitou um novo e irreprimível desejo:”a libertação que ela obteve com o encontro através de Deus de Jesus Cristo, ela sentia o desejo de estendê-lo, devia também dar a outros [essa experiência], ao maior número possível de pessoas.(…)1

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O leigo é chamado a acompanhar cada batizado
durante sua caminhada, nesse terceiro milênio.

Bento XVI compara a Santa sudanesa à juventude católica africana. Também nós que estivemos presentes em Yaoundé, nos dias do congresso. Poderíamos comparar a África de nossos dias a vida da pequena Bakita: roubada de seus pais muito jovem, torturada pelos seus algozes, perseguida, vendida, sofrida, escrava, pobre, mas que com a força do Espírito Santo tudo soube suportar até encontrar a Deus, que já morava no seu interior, nas águas do batismo. Ela caminhou pela via da santidade, onde o exemplo de sua vida será reconhecido por todos os cristãos, até o fim do mundo.

O beato João Paulo II afirma no documento Ecclesia in Africa:

“O Senhor, portanto, considera-Se enviado a aliviar a miséria dos homens e a combater toda a forma de marginalização. Veio libertar o homem; veio assumir as nossas enfermidades e carregar os nossos males: de facto, ” todo o ministério de Jesus está ligado à atenção a todos os que, à sua volta, eram afetados pelo sofrimento: pessoas enlutadas, paralíticos, leprosos, cegos, surdos, mudos… (cf. Mt 8,17)”.118 “É impossível aceitar que a obra de evangelização possa ou deva negligenciar os problemas extremamente graves, debatidos sobremaneira hoje em dia, relativos à justiça, à libertação, ao desenvolvimento e à paz no mundo”:119 a libertação, que a evangelização anuncia, “não pode ser limitada a simples e restrita dimensão econômica, política, social e cultural; mas deve ter em vista o homem todo, integralmente, com todas as suas dimensões, incluindo a sua abertura para o absoluto, o próprio Absoluto de Deus”.1202

É dessa santidade, desse Absoluto de Deus, que África católica tem necessidade. Plêiades de santos que floresçam nesse Continente, que é o da Esperança. Assim ela será, para todo o Ocidente, a luz do mundo e o sal da terra.

Por Lucas Miguel Lihue

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1http://www.laici.va/content/laici/es/eventi/seminari-e-congressi/essere-testimoni-di-gesu-cristo-in-africa-oggi/il-messaggio-del-papa-al-congresso-panafricano.html

2http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_14091995_ecclesia-in-africa_po.html

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