O missionário: como dever ser ele?

Uma vocação esplêndida: levar o evangelho aos homens. Ser missionário. Na América, na África, em tantos lugares. Existirá, contudo, algumas regras que podem ajudá-lo em sua missão? Como deve ele fazer para seguir os passos de insígnes apóstolos, como São Francisco Xavier, e estar disposto até mesmo a derramar seu sangue, como os 40 mártires a caminho do Brasil? 

“Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5).

Esse ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, que encontramos no evangelho de São João, pode valer como introdução para nosso artigo: qual deve ser o perfil moral de um missionário? O que deve fazer para que seu apostolado seja profícuo? Qual é o segredo de seu sucesso?

Desde já podemos afirmar que será a absoluta necessidade de estar unido a Cristo, como os ramos à videira; e de segui-Lo como modelo e exemplo.

O saudoso Pontífice João Paulo II recorda este princípio para nossos dias, esquecidos de que a santidade é a verdadeira seiva do apostolado:

O chamamento à missão deriva por sua natureza da vocação à santidade. Todo missionário só o é autenticamente, se empenhar-se no caminho da santidade […] O renovado impulso para a missão ad gentes exige missionários santos. Não basta explorar com maior perspicácia as bases teológicas e bíblicas da fé, nem renovar os métodos pastorais, nem ainda organizar e coordenar melhor as forças eclesiais: é preciso suscitar um novo “ardor de santidade” entre os missionários[1]

A mentalidade hodierna, toda influenciada de pragmatismo e cientificismo, pode pressionar ao missionário de forma a  julgar fazer bem seu apostolado buscando artifícios meramente humanos. E é a respeito disso que o Papa adverte.

De outro lado, existiram almas que, ao longo da história da Igreja, deparando-se com as vicissitudes e necessidades do apostolado missionário, traçaram regras, em união com o espírito da Igreja, para auxiliar o missionário a compenetrar-se da importância de uma vida espiritual bem levada para evangelizar eficazmente aos demais.

Entre estes, encontramos um livro intitulado “A alma de todo apostolado”. Nele encontramos a afirmação do seu autor, Dom Jean Baptiste Chautard, de que as obras devem ser um trasbordamento da vida interior e do amor a Deus: “a alma do apóstolo é a primeira que deve ser inundada de luz e inflamada em amor, a fim de que, refletindo essa luz e esse calor, possa esclarecer e abrasar depois as outras almas”. [2]Diz ainda que “a vida ativa deve proceder da vida contemplativa, traduzida e continuada exteriormente, desligando-se dela o menos possível”[3]

Encontramos também exortações ao apóstolo que não se empenha em ter a plenitude da vida sobrenatural que deverá transmitir aos demais. O Cônego Guillard, discorrendo sobre o assunto, não teme em dizer que não pode fazer a outros amigos de Deus, se ele mesmo persiste em ser seu inimigo. A morte, diz ele, não pode dar a vida, nem o nada engendrar o ser: o escopo da evangelização “é sobrenatural: a salvação das almas; o seu fim é divino: levar os homens a Deus. Como do natural e do humano se fará o sobrenatural e o divino?”. [4]

Seria como ansiar levar a alguém uma mensagem da parte de Deus, tendo o envelope vazio. “Nesse caso-conclui o autor- não existe ação apostólica e nem existe apóstolo”[5]

O documento de Aparecida se refere a esse assunto nos seguintes termos:

O terceiro desafio se refere […] a uma vida espiritual intensa fundada na caridade pastoral, que se nutre na experiência pessoal com Deus. […] O sacerdote deve ser homem de oração, maduro na sua eleição de vida por Deus, fazer uso dos meios de perseverança, como o Sacramento da confissão, a devoção à Santíssima Virgem, a mortificação e a entrega apaixonada a sua missão pastoral.[6]

Podemos finalizar nosso pensamento em dizer que o único a que aspiram as almas é sentir o perfume da santidade em seus apóstolos. Então se deixarão atrair e influenciar.

Santos e santas. É do que a Igreja precisa para suas missões. Quando surgirem em seu seio almas generosas que se doem sem apego, sem dúvidas, sem titubeios, poderemos ter a segurança de que o céu de encherá, e as portas do inferno terão que ser fechadas, pois os apóstolos da Igreja não permitirão mais que os homens se percam eternamente.


[1] “Vocatio ad missionem suapte natura ex ipsa ad sanctitatem vocatione promanat. Quisque missionarius revera talis est modo si viae sese commendat sanctimoniae […] Novus hic impulsus in missionem ad gentes sanctos requirit missionarios Haud enim rationes pastorales renovare sufficit nec ordinare et componere melius ecclesiales copias neque accuratius fundamenta fidei biblica et theologica scrutari : opus potius est novum excitare « sanctitatis ardorem » inter  missionarios”. JOÃO PAULO II. Carta encíclica Redemptoris Misio, 7 Dez. 1990. In: AAS 83 (1991) p. 336 (Tradução do autor).

[2] CHAUTARD, Jean Baptiste. A alma de todo apostolado, São Paulo: Coleção F.T.D., 1962, p. 67.

[3] Loc. Cit, p. 66.

[4] «  Ici la fin est surnaturelle: le salut des âmes ; le but est divin : mener l’homme au Seigneur. Comment avec du naturel et de l’humain faire du surnaturel et du divin? » GUILLARD. Sainteté et apostolat. Quebec: Luçon, 1950. p. 154 (Tradução do autor)

[5] « Dans ce cas, il n’existe pas d’action apostolique et il n’existe pas d’apôtre ». Loc. Cit, p. 153. (Tradução do autor).

[6] DOCUMENTO CONCLUSIVO DE APARECIDA, n. 190. In: Documento conclusivo de Aparecida. 2 ed. Bogotá: San Pablo, 2007. p. 123.

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