A Via-Sacra não é uma coisa que pertence ao passado e a um determinado ponto da terra. A cruz do Senhor abraça o mundo; a sua “Via-Crucis” atravessa os continentes e os tempos. Na Via-Sacra não podemos ser apenas espectadores. Também nós estamos incluídos, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos?
Na “Via Crucis” não existe a possibilidade de ser neutro. Pilatos, o intelectual céptico, procurou ser neutro, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou posição contra a justiça, para não pôr em risco a sua carreira.
Devemos procurar o nosso lugar.
No espelho da cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje. Na cruz de Cristo vimos hoje o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não vêem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede.
Mas vimos também “estações” de consolação. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega com Jesus a cruz.
Vimos, por fim, através destas “estações” de consolação, que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no “caminho da cruz”, Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar, com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor.
Peçamos ao Senhor que nos ajude a sermos “contagiados” pela sua misericórdia. Rezemos à Santa Mãe de Jesus, a Mãe da Misericórdia, para que nós também possamos ser homens e mulheres de misericórdia e, desta forma, contribuir para a salvação do mundo; para a salvação das criaturas; para sermos homens e mulheres de Deus. (Discurso após a Via-Sacra, na Sexta-Feira Santa, 14 de abril de 2006)
Estes luminosos ensinamentos de SS. o Papa Bento XVI sobre a Via-Sacra são de molde a estimular todos aqueles que, no tempo litúrgico da Quaresma levam adiante esta prática tão piedosa e sempre estimulada pela Igreja ao longo dos séculos.
Assim, já há alguns anos os Religiosos e Religiosas de Maputo se reúnem para percorrerem juntos as estações da Via-Sacra. A mesma tem se realizado na Casa das Irmãzinhas dos Anciãos Desamparados, no Bairro de Malhangalene.
Neste ano de 2012, a data fixada pela CIRM-CONFEREMO – organismo que congrega todos os religiosos e religiosas em Moçambique – foi o passado domingo, dia 18. Mais de duas centenas de pessoas – religiosos e religiosas, acompanhados de aspirantes e noviços de dezenas de Congregações que se dedicam à vida missionária aqui em África – participaram piedosamente desta já tradicional Via-Sacra. Após a 14ª. estação houve uma pausa para confissões. Os sacerdotes se dispuseram em diversos locais do parque da Casa e por longo tempo se dispuseram solicitamente para o sacramento da reconciliação.
Em seguida rezou-se a 15ª. estação dentro da Capela e, com a bênção final, todos retornaram às suas Casas, fortalecidos pela oração