Escravo dos africanos para sempre! – II

Damos sequência a impressionante vida de São Pedro Claver, missionário jesuíta que dedicou toda sua vida à evangelização dos negros africanos, trabalhando ardorosamente para retirá-los das trevas do paganismo e introduzir na alma deles a luz da Santa Igreja Católica, elevando-os pelos sacramentos à sublime e inigualável condição de filhos de Deus e templos da Santíssima Trindade.

Esperamos que nossos leitores apreciem esse belo exemplo, mas sobretudo auxiliem, com suas orações e seu apoio, às missões nas terras africanas.

O campo de batalha

A cidade de Cartagena constituía, nessa época, um dos pontos principais de comércio entre a Europa e o novo continente, e juntamente com Veracruz, no México, eram os dois únicos portos autorizados para a introdução de escravos africanos na América Espanhola. Calcula-se que cerca de dez mil escravos chegavam anualmente a esta cidade, trazidos por mercadores, geralmente portugueses e ingleses, que se dedicavam a este vil e cruel comércio.

Esses pobres seres, arrancados das costas da África, onde viviam no paganismo e na barbárie, eram trazidos no fundo dos porões dos navios para serem vendidos como simples objetos e finalmente destinados ao trabalho nas minas e nas fazendas onde, depois de haver vivido sem esperança, morriam miseravelmente sem o auxílio da religião.

Converter esses milhares de infelizes cativos e lhes abrir as portas do Céu, foi a missão à qual Pedro Claver consagrou toda a sua existência.

Assim, quando chegou o grandioso e esperado momento de emitir os votos solenes, pelos quais se comprometia a ser obediente, casto e pobre até a morte, assinou o documento com a fórmula que doravante seria a síntese de sua vida: Petrus Claver, æthiopum semper servus. – “Pedro Claver, escravo dos africanos para sempre”. Tinha 42 anos de idade.

O escravo dos escravos

Quando um navio carregado de escravos chegava ao porto, o Padre Claver acorria imediatamente numa pequena embarcação, levando consigo uma grande provisão de biscoitos, frutas, doces e aguardente.

Aqueles seres embrutecidos por uma vida selvagem e exaustos pela viagem realizada em condições desumanas, olhavam-no com temor e desconfiança. Mas ele os saudava com alegria e por meio de seus auxiliares e intérpretes negros – tinha mais de dez – dizia-lhes: “Não temais! Estou aqui para vos ajudar, para aliviar vossas dores e doenças.” E muitas outras frases consoladoras. Porém, mais que as palavras, falavam suas ações: antes de mais nada, batizava as crianças moribundas; depois recebia em seus braços os enfermos, distribuía a todos bebidas e alimentos e fazia- se servo daqueles desventurados.

Árdua catequese

Levando em sua mão direita um bastão encimado por uma cruz e um belo crucifixo de bronze pendurado no pescoço, saía Pedro Claver todos os dias para catequizar os escravos. Calores extenuantes, chuvas torrenciais, críticas e incompreensões até dos próprios irmãos de vocação, nada arrefecia sua caridade.

Com freqüência batia nos pórticos senhoriais da cidade pedindo doces, presentes, roupas, dinheiro e almas decididas que o auxiliassem em seu duro apostolado. E não poucas vezes nobres capitães, cavaleiros e senhoras ricas e piedosas o seguiam até as míseras moradias dos escravos.

Entrando nesses lugares, seu primeiro cuidado dirigia-se sempre aos doentes. Lavava-lhes o rosto, curava suas feridas e chagas e repartia comida aos mais necessitados. Apaziguadas as penalidades do corpo, reunia então a todos em torno de um improvisado altar, os homens de um lado e as mulheres de outro, e iniciava a catequese que ele sabia colocar maravilhosamente ao alcance da curta inteligência dos escravos. Pendurava à vista de todos uma tela pintada com a figura de Nosso Senhor crucificado, com uma grande fonte de sangue correndo de seu lado ferido; aos pés da Cruz, um sacerdote batizava com o Sangue Divino vários negros, os quais apareciam belos e brilhantes; mais abaixo, um demônio tentava devorar alguns negros que ainda não haviam sido batizados.

Dizia-lhes, então, que deveriam esquecer todas as superstições e ritos que praticavam nas tribos e lugares de origem, e lhes repetia isso muitas vezes.

Depois lhes ensinava a fazer o sinal -da- cruz e lhes explicava paulatinamente os principais mistérios da nossa Fé: Unidade e Trindade de Deus, Encarnação do Verbo, Paixão de Jesus, mediação de Maria, Céu e inferno.

Pedro Claver compreendia bem que aquelas mentalidades rudes não podiam assimilar idéias abstratas sem a ajuda de muitas imagens e figuras. Por isso lhes mostrava estampas nas quais estavam pintadas cenas da vida de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, representações do Paraíso e do inferno.

Batizou mais de 300 mil escravos

Após inúmeras jornadas de árdua evangelização, batizava-os finalmente. Para celebrar este Sacramento utilizava uma jarra e uma bacia de fina porcelana chinesa, e queria que os escravos estivessem limpos. Introduzia seu crucifixo de bronze na água, abençoava-a e dizia que agora aquele líquido era santo, e que após serem lavadas nessa água suas almas se tornariam mais refulgentes que o sol. Calcula-se que ao longo de sua vida São Pedro Claver batizou mais de 300 mil escravos. Aos domingos, percorria ruas e estradas da região chamando-os à santa Missa e ao sacramento da Penitência. Dias havia que passava a noite inteira confessando os pobres escravos. (Continua em próximo artigo…)

Por Pe. Pedro Morazzani Arráiz, EP (Revista Arautos do Evangelho, Set/2005, n. 45, p. 20 à 23). 

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